quarta-feira, 25 de março de 2015

Vozes do deserto, de Nélida Piñon.

Acabei de ler recentemente "Vozes do deserto", de Nélida Piñon. Este foi com certeza um dos melhores livros que já li na vida. É uma espécie de releitura do Livro das 1001 noites, mas aqui o foco é a personagem Scherezade, suas angústias e suas dores e não as histórias que ela conta. Mas indo pelo viés das histórias, podemos dizer que o foco é mais o processo de sua criação, já que Scherezade precisa inventar histórias para não ser morta ao amanhecer pelo Califa. E, a meu ver, mostrando o seu processo de invenção de histórias a autora faz uma reflexão a respeito do processo de criação do escritor. Como em outras obras da escritora, a mulher tem um papel de destaque na narrativa. Scherezade e Dinazarda (sua irmã), com a ajuda de Jasmine, fazem de tudo para não serem mortas pelo Califa. Com o decorrer da narrativa, vamos acompanhando o processo de mudança que se opera no Califa, através das histórias de Scherezade. Ele reflete sobre a sua condição como homem e como governante e através das histórias, muda E esta não é justamente uma das "funções" da literatura? Nos fazer refletir sobre nós, sobre a realidade e sobre nós dentro da realidade em que vivemos para que operemos mudanças em nós e na realidade à nossa volta? Bem, só tenho à agradecer à professora que me apresentou à Nélida Piñon. Obrigada, Sherry. "Vozes do deserto" é um belíssimo livro que vale muito a pena ser lido.

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