Acabei de ler recentemente "Vozes do deserto", de Nélida Piñon. Este foi com certeza um dos melhores livros que já li na vida. É uma espécie de releitura do Livro das 1001 noites, mas aqui o foco é a personagem Scherezade, suas angústias e suas dores e não as histórias que ela conta. Mas indo pelo viés das histórias, podemos dizer que o foco é mais o processo de sua criação, já que Scherezade precisa inventar histórias para não ser morta ao amanhecer pelo Califa. E, a meu ver, mostrando o seu processo de invenção de histórias a autora faz uma reflexão a respeito do processo de criação do escritor. Como em outras obras da escritora, a mulher tem um papel de destaque na narrativa. Scherezade e Dinazarda (sua irmã), com a ajuda de Jasmine, fazem de tudo para não serem mortas pelo Califa. Com o decorrer da narrativa, vamos acompanhando o processo de mudança que se opera no Califa, através das histórias de Scherezade. Ele reflete sobre a sua condição como homem e como governante e através das histórias, muda E esta não é justamente uma das "funções" da literatura? Nos fazer refletir sobre nós, sobre a realidade e sobre nós dentro da realidade em que vivemos para que operemos mudanças em nós e na realidade à nossa volta? Bem, só tenho à agradecer à professora que me apresentou à Nélida Piñon. Obrigada, Sherry. "Vozes do deserto" é um belíssimo livro que vale muito a pena ser lido.
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