terça-feira, 12 de maio de 2015

Fogo morto, de José Lins do Rego.

Terminei de ler quase agora o romance "Fogo morto", de José Lins do Rego. Esta obra é considerada por muitos como a obra-prima do escritor. Não posso dizer se é a obra-prima, pois nunca li todos os seus livros, mas posso dizer que a obra é realmente muito boa. Bem, o livro é narrado em terceira pessoa e é dividido em três partes. Cada parte tem o nome de uma personagem principal. A primeira é "O Mestre José Amaro", um celeiro que mora nas terras do Engenho Santa Fé. Um homem que orgulha-se de não trabalhar pra ninguém e de não levar gritos de outrem. Mora com a filha, Marta, e a mulher, Sinhá. Aos poucos, a sua vida vai desmoronando. A filha enlouquece e vai para um sanatório e a mulher vai morar na casa dos compadres, acreditando nos boatos do povo de que o marido se transforma em lobisomem. Fora isso, a casa em que José Amaro morava é pedida pelo dono da terra, o Seu Lula. O final de Amaro é trágico e será conhecido na terceira parte do livro. 
A segunda parte do livro chama-se "O Engenho de Seu Lula" e narra a história do Engenho Santa Fé, desde a chegada do Capitão Tomás Cabral de Melo até os dias atuais. Aqui, a história faz uma visita ao passado para narrar as origens do Engenho Santa Fé. Mostra como o Capitão Tomás trabalhou e administrou bem o seu engenho, ao passo que o genro, Seu Lula, meio que colocou tudo a perder, pois era um homem estudado, que não se interessava pelas coisas do engenho e passava o dia a ler jornais. Fora que era bastante autoritário e vivia batendo nos negros de seu engenho. 
A terceira parte é "O capitão Vitorino". O Capitão Vitorino Carneiro da Cunha tem um quê de Dom Quixote, lutando pelos fracos e oprimidos e pelo que acha que é certo e justo. Não leva desaforos para a casa. 
Como o livro narra a decadência dos engenhos e de seus senhores (um engenho vira fogo morto quando deixa de produzir açúcar), vemos aqui a decadência de José Amaro e de Seu Lula e também do Engenho Santa Fé. Temos a ascensão gradual do Capitão Vitorino na política. Vemos que há um forte apego às antigas posições ocupadas por estes homens e às patentes que foram compradas à Guarda Nacional. 
Personagens presentes em "Menino de Engenho" também estão presentes aqui, como também alguns cenários: O Santa Fé, o Coronel José Paulino, o Capitão Antonio Silvino, o Pilar (cidade onde o escritor nasceu). Alguns temas também estão presentes nas duas obras: a loucura (temos Marta e Olívia loucas) e o cangaço. Lins do Rego também coloca em sua obra personagens que realmente existiram, como é o caso de Antonio Silvino, um cangaceiro que existiu de verdade e que antes de Lampião aparecer era o nome mais ilustre do Cangaço; de Dantas Barreto e de Rego Barros, entre outros. 
 O livro também mostra as ligações que os bandos de cangaceiros tinham com alguns senhores de engenho, que os protegia em troca de alguma proteção também. Os amigos eram protegidos e os inimigos atacados. Como o livro tem muito das memórias de José Lins, que também viveu em um engenho e presenciou o processo de decadência deles, temos um retrato da época e uma noção de como foi o processo de decadência dos engenhos e de seus senhores. Aqui deve-se guardar as devidas proporções, pois o livro é uma obra de arte e embora tenha um certo tom memorialista não tem um compromisso com a verdade, mas com a ficção e a literatura.

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