Depois que cheguei em casa do hospital, melhorei bastante. Abri mais a boca pra falar e tinha mais gente com quem conversar. E não tinha ninguém pra falar de morte... Embora algumas pessoas que fossem me visitar insistissem em falar em acidentes. Só tenho a agradecer a quem cuidou de mim no tempo em que eu passei em casa: mainha, em primeiro lugar, que viu os meus raros, mas não inexistentes momentos de desespero; Tatá, que tinha o cuidado de fazer comidas que não corressem o risco de me engasgar; meu irmão Keko, que dava banho em mim, me ajudava na hora das necessidades fisiológias rs, me dava comida e sempre me dava forças; meu pai, que arranjou a ambulância pra eu voltar pra casa e pra ir aos médicos nos primeiros dias e depois (quando eu já era uma mocinha e podia sentar por muito tempo rs) arranjava os carros pra me levar aos médicos. E a todas as outras pessoas que me ligaram ou foram me visitar, que não vou citar aqui pra não correr o risco de esquecer o nome de alguém. Recebi muita força para seguir em frente de todos eles.
Depois que cheguei em casa, o pensamento era ficar boa para ir à minha formatura. A todo mundo que chegava lá eu dizia que ia me formar... Estaria no dia da colação nem que fosse numa maca, mas lá eu estaria. Tinha um pequeno problema, pois ainda tinha cadeira que eu faltava notas. Duas, na verdade. Em uma, o professor repetiu a minha nota e me fez jurar que eu nunca diria a ninguém. Coisa que nunca disse. Por isso, não digo o nome dele aqui. Serei sempre grata. O problema não foi ele. Foi a professora de Prática de Ensino de História, Vera. Que queria que eu fosse para a faculdade fazer uma prova, quando eu nem me sentava por muito tempo. O meu relatório, Rogéria fez e entregou. Serei eternamente grata. Em outra cadeira, Fernanda e Patrícia colocaram o meu nome no trabalho.
Enquanto isso, as prévias carnavalescas estavam com tudo porque em 2008 o carnaval foi bem no começo de fevereiro... E eu doida pra pular...
No dia 21 de janeiro eu fui para o Hospital Getúlio Vargas. Tia Teca conhecia um médico lá e ele arranjou pra eu fazer os exames, pois os meus exames tinham todos ficado no Hospital de Traumas da Paraíba. Fui fazer radiografias e uma tomografia. Logo quando eu cheguei, vi uma criatura tremendo numa cadeira de rodas e outra morrendo em cima de uma cama. Só me lembro dos médicos gritando: Adrenalina!!! Adrenalina!!! Passei a noite lá, pois o traumatologista só chegaria no outro dia pela manhã. Foi a pior noite de minha vida. Me colocaram numa maca com um colchão tronxo. As minhas costas passaram a noite doendo. E eu passei a noite pedindo à mainha pra ficar sentada porque não tava aguentando de dor nas costas. Depois, mainha me contou que a médica da noite tinha dito a ela que eu ia precisar de cirurgia, por isso ela não queria me levantar. Tive que tomar um tranquilizante pra dormir porque a dor não me deixava. E mesmo assim, só dormi por menos de duas horas. Queria que a hora passasse, que o dia raiasse e o médico chegasse. Eram quase nove quando o médico chegou e eu pedi à mainha para ir procurar por ele porque eu queria sair dali. Quando mainha voltou, ela disse que o médico não só estava me chamando como era pra eu ir andando. Eu olhei pra mainha e disse: Andando? Andando andando? Andando mesmo? Quase não acreditei. E quase que não saía do lugar. Quando me levantei, as minhas pernas tremiam. E fora que estavam bastante dormentes. Levei uns 10 minutos pra poder chegar na sala do médico. Quando cheguei lá, não só as minha pernas tremiam, mas eu também. Me deu uma tontura. Uma dor de barriga, uma vontade de vomitar que vocês não têm noção... O médico falou que eu podia andar... E eu estava muito feliz por ouvir aquilo. Se lembra que na primeira parte eu falei que o enfermeiro recolocou o colar errado no pescoço. Pois bem, o colar estava entrando nas minhas costas. Eu tava já me sentindo Jesus Cristo, com o devido respeito ao pessoal religioso... Fui tomar banho em pé (muito rápido, porque eu não conseguia ficar em pé) e depois fizeram um curativo em mim. Porque as feridas já estavam fedendo. Fui pra casa de cadeira de rodas. E aquilo pra mim era quase como estar correndo, porque eu estava muito feliz. Era 22 de janeiro, um dia antes do meu aniversário. E eu tenho certeza que nunca mais vou ganhar um presente tão bom quanto este, salvo se eu tiver um filho nesta data. A primeira pessoa que liguei pra dizer foi Inês, minha tia e depois, Kíkero. Cheguei em casa andando... Lentamente, mas não importava. O importante era que eu tava andando... Nadja e Verônica foram lá me visitar neste dia. Depois foram Ju e Jefferson. Pela primeira vez eu andei em casa depois do acidente. Levei uns 15 minutos pra chegar da minha cama à cadeira em que eu me sentei no banheiro pra tomar banho. E ainda me sentei numa cadeira no meio do caminho. Mas isso pra mim não importava... o que importava era que eu tava andando, mesmo que devagar... e aquele era mais um passo pra eu voltar à minha vida normal...
Ta ficando mais interessante... Já já vai sair um livro ou um filme ;) srsrs... Ainda bem que o final dessa história foi feliz... vc é muito jovem e ainda tem muito para contribuir com o mundo. Quem sabe não vai ser com uma autobiografia?
ResponderExcluirbjos... sucesso!