sábado, 21 de abril de 2012

Cantiga sua partindo-se, de João Ruiz de Castelo Branco.

 Estou eu em pleno sábado de manhã fazendo análise de dois poemas da poesia palaciana para a cadeira de Literatura Portuguesa. Achei lindo esse poema e achei que a análise ficou legalzinha, então resolvi compartilhar com vocês o poema e a análise. Ah, quase que ia me esquecendo, esta obra está presente no Cancioneiro Geral, que foi compilado por Garcia de Resende.

Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.


Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes, os tristes,
tão fora de esperar bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.


(João Ruiz de Castelo Branco - Cancioneiro Geral, III, p. 134)

 
Na Cantiga sua partindo-se de João Ruiz de Castelo Branco, temos o tema da partida e da saudade. Comparando com as cantigas de amigo e de amor trovadorescas, o que temos aqui é que em vez do eu-lírico feminino cantar a partida do seu amigo, quem canta é um eu-lírico masculino o sofrimento da sua partida, endereçado à sua senhora. Mas ao contrário das cantigas de amor, não há uma relação de vassalagem com a senhora. A palavra senhora presente no primeiro verso do poema, já não caracteriza essa relação, seria mais uma forma de galanteio por parte do rapaz. A expressão meu bem, presente no segundo verso, talvez nos dê uma ideia de uma relação mais próxima dos amantes. Poderíamos dizer que o eu-lírico está em conflito entre um amor platônico e um amor real.
A repetição da palavra triste nas três estrofes do poema nos dá uma ideia da tristeza do eu-lírico em separar-se de sua amada, como também as palavras: “saudosos”, “doentes”, “partida”, “cansados”, “chorosos”, “morte”, “desejosos”. Assim como no Trovadorismo, a hipérbole continua presente, como podemos atestar nos versos “da morte mais desejosos/ cem mil vezes que da vida”. Nestes mesmos versos também está presente a antítese: morte/vida.
Na segunda e na terceira estrofes, temos uma ambiguidade, pois não sabemos se quando o poeta fala “tristes” ele está falando dos seus olhos tristes por deixar a sua amada, como na primeira estrofe, ou se está falando das pessoas que estão tristes por terem que partir e se distanciar de quem ama. Há aliteração (repetição de sons consonantais idênticos ou similares) nos versos: “tão doentes da partida” e “Partem tão tristes os tristes”.
Ao ler-se o poema, percebe-se o seu ritmo lento, o que nos ajuda, de certa forma, a sentir a tristeza do eu-lírico. A repetição da palavra “tão”, presente em todo em todas as estrofes, e que nos lembra o som de uma batida, dá o ritmo do poema.

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