quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Algumas ideias de Durkheim...


 Essa daí foi a minha parte no seminário de ontem que falei... Achei que ficou legal e resolvi compartilhar... Com algumas alterações...

2. Principais ideias de Émile Durkheim
Émile Durkheim interessa-se pelo socialismo, mas possui uma visão própria sobre o assunto, bem diferente da de Karl Marx. Para Durkheim, o socialismo é um movimento de regeneração da moralidade social, um sistema de princípios morais defendidos pela sociologia científica. Para tal, é necessária uma metodologia científica que não se interesse por economia e política. Para análise do método social, usa o método positivista, criado por Augusto Comte, em que usa-se a objetividade e a neutralidade do cientista em relação ao seu objeto de estudo.
2.1 Morfologia social
A morfologia social é o estudo da sociedade em seu aspecto exterior. Não deve ser pura e simplesmente uma análise descritiva, mas deve também explicar. Deve procurar saber por que a população se concentra em determinados pontos, porque ela é mais urbana que rural, quais as causas determinantes do desenvolvimento das cidades etc.
2.2 Fisiologia social
A fisiologia social estuda as manifestações vitais da sociedade. É por si só muita complexa, pois envolve ciências particulares: Sociologia Religiosa, Sociologia moral, Sociologia jurídica, Sociologia Econômica, Sociologia Linguística, Sociologia Estética, etc.
2.3 O fato social
Para Durkheim, o objeto da sociologia é o fato social, mas nem tudo o que acontece na sociedade é fato social. Para ser um fato social é necessário:
  • Ser exterior ao indivíduo. Atuar sobre este independente de sua vontade. As regras da sociedade não são feitas pelos indivíduos, mas são legadas pelas gerações anteriores.
  • Exercer uma coerção social sobre o indivíduo, fazendo com que ele se conforme com as regras existentes. O indivíduo não participa da elaboração das regras e se não as cumprir, recebe sanções. A coerção tem o papel de instituir maneiras de agir e alguns julgamentos que independem de nossa vontade e não somos capazes de mudá-los.
  • Haver repetição em todos os indivíduos ou na grande maioria.
Por exemplo, se um indivíduo não se veste de acordo com a sua cultura ou não participa desta, os demais indivíduos desta sociedade tendem afastar-se daquele, o que constitui uma pena, uma coerção, embora de forma branda. Se um indivíduo não usar as novas tecnologias, tende a ser excluído da sociedade moderna. Mesmo quando ele pode não aceitar as regras, é obrigado a aceitá-las, pois estas regras são exteriores a ele. Se um indivíduo viola as leis do direito, estas leis reagem contra ele a fim de impedir o seu ato ou o faz restabelecer-se em sua forma normal, caso o ato já tenha sido consumado. Em outros casos, quando não é punido com a justiça, é punido com a consciência pública, na vigilância que ela exerce sobre a conduta dos cidadãos.
Os fatos sociais independem do que os indivíduos pensam ou fazem, pois têm vida própria. Mesmo as pessoas tendo características pessoais variadas e traços mentais e emocionais que lhes tornam particulares, o que Durkheim chama de consciência individual, no interior de cada sociedade há uma padronização de comportamento, que independe da conduta do indivíduo. A consciência individual está subordinada a um conjunto de regras e sanções que se perpetuam ao longo das gerações e são impostas ao indivíduo, a consciência coletiva, que se sobrepõe à consciência individual. A consciência coletiva é um conjunto de sentimentos e crenças comuns a uma determinada sociedade, que lhe dá uma característica própria. Ela também serve de regulador moral desta sociedade. Uma sociedade em harmonia é aquela em que a consciência individual está subordinada à consciência coletiva, que é responsável pela organização social.
Depois do exposto sobre o fato social, apresentamos a definição de Durkheim:
É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter. (2010, p.52)
2.4 Solidariedade mecânica e solidariedade orgânica
Em seus estudos, Durkheim pensa o que leva a sociedade a manter-se unida, o que o leva à questão da solidariedade. As sociedades pré-capitalistas são caracterizadas pela solidariedade mecânica, pois não há entre os seus membros grande divisão do trabalho. Esta sociedade mantém-se unida pela semelhança entre os seus membros, que compartilham os mesmos conhecimentos, sentimentos, valores e crenças.
Durkheim toma de empréstimo termos da biologia, o que era comum em sua época, e concebe as sociedades complexas como grandes organismos vivos, onde os órgãos são diferentes entre si, a divisão do trabalho, mas todos dependem um do outro para o bom funcionamento do ser vivo. Os seus membros são especialistas em suas tarefas. Cada indivíduo é responsável por uma tarefa e sente a necessidade do trabalho do outro, o que mantém a sociedade coesa. Há uma maior interdependência entre os indivíduos desta sociedade.
2.5 Direito repressivo e direito restitutivo
As sociedades de solidariedade mecânica são caracterizadas pelo direito repressivo: os atos considerados imorais são severamente castigados e considerados uma ofensa ao sistema moral. Na solidariedade orgânica, temos o direito restitutivo: quando descumprem as regras vigentes, os indivíduos reparam os seus erros pagando uma pena.
2.6  Anomia

Quando não há a consciência de uma conduta apropriada e quando os valores não estão bem definidos, Durkheim usa o conceito de anomia, que é a ausência de regras definidas para regular o comportamento dos indivíduos em sociedade. É a ruptura entre os objetivos individuais estabelecidos culturalmente e os meios instituídos socialmente para alcançá-los, o que pode ser provocado por alterações sócio-econômicas de grande porte e as transformações ocorridas pelo processo de industrialização, o que produz a decadência e desorganização da estrutura do sistema social e a falta de objetivos e perda da identidade por parte do indivíduo. A sociedade não está harmônica.
Para Durkheim, o progresso desencadeado pelo capitalismo traz um aumento da divisão do trabalho e da solidariedade orgânica, o que levaria a sociedade a um estágio sem conflitos. Os problemas sociais não se resolveriam pela luta, mas pela ciência. A causa dos problemas sociais não é a economia ou a política, mas o não cumprimento das leis, a crise moral.
Quando a sociedade está em um estágio de não-cumprimento de suas leis, ela está diante de um caso patológico. Ela deve buscar auxílio na sociologia, que detecta os fatores que a levaram a esta crise moral para evitar a anomia. A moral social resolve estes problemas. O Estado tem um importante papel neste processo, pois ele é o executor desta moral. Para Durkheim, o sociólogo deve ter participação direta no Estado para realizar as mudanças sociais necessárias à solução dos problemas sociais. As patologias recebem remédios a partir das reformas estruturais, como o desenvolvimento das associações profissionais, que agrupam os trabalhadores de uma mesma indústria ou especialidade, que reconhecem os seus interesses em comum e ajudam a combater a perda da moral coletiva. Para ele, não há conflito de interesses entre patrões e empregados. O que integra os dois é a profissão. A corporação é o único grupo social que favorece a integração do indivíduo na coletividade.
Para o sociólogo, a anomia é a principal causa dos suicídios. O suicídio anômico está relacionado ao enfraquecimento da moral coletiva e à ausência de regras. Ele ocorre quando as forças reguladoras da sociedade param de atuar.
2.7 Religião
A religião tem um caráter uniforme e onipresente nas sociedades primitivas, por isso podemos compará-la com a consciência coletiva. Já na sociedade complexa, a religião perde o domínio e passa a ser apenas uma entre as várias representações coletivas. A maioria das representações coletivas modernas possui a sua origem em algum tipo de religião de sociedades pré-capitalistas. Para o autor, a sociedade é a fonte de toda e qualquer religião. Ela cria a religião para determinar o que é profano e o que é sagrado. Algumas condições são necessárias para o desenvolvimento da religião:
·         Apresentação de um conjunto de crenças religiosas, que expressam a natureza dos fenômenos sagrados e a relação dos mesmos com os profanos.
·         Um conjunto de ritos, as regras de conduta que determinam como o homem deve agir em relação às coisas sagradas.
·         Um templo, uma comunidade moral. As práticas sagradas e as crenças da religião se unem numa comunidade moral chamada Igreja.
2.8 O suicídio
Para Durkheim, embora o suicídio seja um ato privado do indivíduo, ele é um fato social, pois por trás dele há estímulos atuando sobre os indivíduos para que eles tirem a própria vida. Entre os fatores do suicídio, os únicos que interessam aos sociólogos são os que se fazem sentir no conjunto da sociedade. Durkheim acredita que se a sociologia pudesse explicar um ato tão individual como o suicídio, ela podia ampliar os seus domínios a outros fenômenos sociológicos, podendo assim ser reconhecida no mundo acadêmico. Os tipos de suicídio estudados pelo sociólogo estão relacionados a uma maior ou menor integração dos sentimentos coletivos ou da coerção externa sobre os indivíduos.
2.8.1 Suicídio egoísta
A taxa deste tipo de suicídio aumenta quando a proteção por parte de determinados grupos sociais diminui. Algumas condições sociais particulares, profissões ou confissões religiosas detêm ou estimulam o indivíduo ao suicídio. As sociedades religiosas, políticas e domésticas exercem sobre o suicida uma influência moderadora, pois compartilham dos mesmos sentimentos e são grupos em que os indivíduos estão fortemente integrados. Caso esta integração não ocorra, essas sociedades servem de estímulo para que o indivíduo se suicide. Para Durkheim,
Quanto mais enfraquecidos sejam os grupos a que pertence, menos depende deles e mais, por conseqüência, depende apenas de si próprio por não reconhecer outras regras de conduta que as estabelecidas no seu interesse privado. Se está de acordo em chamar de egoísmo a este estado onde o ego individual se afirma demasiadamente face ao ego social e à custa deste último, nós poderemos dar o nome de egoísta para o tipo particular de suicídio que resulta de uma individualização desmesurada.
A desintegração social e o egoísmo levam á depressão, à melancolia e à sensação de desamparo moral que podem se tornar causas do suicídio.
2.8.2 Suicídio altruísta
Nas sociedades de solidariedade mecânica, constituem a morte de enfermos ou pessoas muito idosas, de viúvas, de servidores quando o chefe morre. A morte destas pessoas é um dever social que se não é cumprido, é punido por castigos religiosos e por perda da estima pública. A sociedade leva o indivíduo ao suicídio. Nas sociedades modernas, o suicídio altruísta não é muito comum, pois o individual tende a libertar-se cada vez mais do coletivo. Alguns raros exemplos deste tipo de suicídio são encontrados em mártires religiosos e no exército.
2.8.3 Suicídio anômico
Neste tipo de suicídio, as normas sociais estão ausentes por conta de transformações ocorridas na sociedade, como grandes crises econômicas. As taxas de suicídio anômico aumentam tanto por uma grande perda econômica tanto por um ganho econômico. A coletividade temporariamente está ncapaz de regular os indivíduos. Para Ellen Plümer,
A sociedade, durante os períodos de desregulamentação da vida social, deixa de estar suficientemente presente para regular as paixões individuais, permitindo, assim, às pessoas se converterem em escravas de suas próprias paixões e a realizarem atos destrutivos, entre eles, destruir suas vidas, em maior número que em condições normais. (1999, p. 59)
2.8.4 Suicídio fatalista
            Ocorre quando há uma regulação excessiva. Os indivíduos que praticam este tipo de suicídio são aqueles que têm o futuro determinado e as paixões comprimidas por uma disciplina opressora, como é o caso dos escravs, por exemplo.
2.9 Educação
A educação tem um importante papel nas ideias de Durkheim, pois ela colabora para que o indivíduo internalize as regras sociais e as transforme em hábito. A sociedade só pode existir se houver uma homogeneidade entre os seus membros e a educação suscita isso. A educação fortalece essa homogeneidade. Ela não pode ficar a mercê das vontades individuais, mas precisa estabelecer uma comunhão de ideias e sentimentos entre os cidadãos. As práticas educativas resultam da ação exercida de uma geração sobre a geração seguinte no intuito de adaptar a mesma ao meio social no qual está inserida.
Referências
Livros
BOELTER, Cleuza; PLÜMER, Ellen. Émile Durkheim: sua obra e contexto histórico. In: TESKE, Ottmar (Coord.). Sociologia: textos e contextos. Canoas: Ed. ULBRA, 1999.
DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. Petrópolis: Vozes, 2011.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 2011. 3ª edição.
PLÜMER, Ellen. Suicídio em Durkheim. In: TESKE, Ottmar (Coord.). Sociologia: textos e contextos. Canoas: Ed. ULBRA, 1999.
RODRIGUES, José Albertino (Org.). Émile Durkheim. São Paulo: Ática, 2010.
Sites
Café com sociologia – cafecomsociologia.blogspot.com – Acesso em 11/10/2011.
Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Anomia - Acesso em 11/10/2011.

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