terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

A primeira vez que li "Memórias de um sargento de milícias" foi para o vestibular da UPE, no longínquo ano de 2002. Como não passei, li novamente em 2003 e destas duas leituras o que me ficou foi que Leonardo era filho de uma pisadela e de um beliscão. Tive que (re)lê-lo mais uma vez este ano e foi uma leitura completamente diferente, bem mais atenciosa que das outras duas vezes e com um novo olhar. Um olhar de quem estuda literatura há quase cinco anos (não que eu saiba muita coisa sobre Literatura. Quanto mais estudo menos sei e acho que justamente aí é que reside o interessante do estudo rs). Foi realmente  um exercício interessante. Bem, o livro gira em torno de Leonardo, o tal filho da pisadela de Leonardo Pataca e do beliscão de Maria. Leonardo é o protagonista, mas o autor também dá destaque às outras personagens, como o padrinho e a madrinha de Leonardo. Personagens estas, em sua maioria, das camadas populares da sociedade carioca do século XIX. Leonardo é uma espécie de anti-herói romântico. Enquanto o Peri de Alencar é um cavaleiro medieval dos trópicos, Leonardo é um fanfarrão por natureza. Gosta da vida boa sem fazer esforço para merecê-la. E desde criança é assim. Todo mundo enxerga isso, menos o padrinho, que teima em ver sempre o melhor lado de Leonardo. A sua vida ao lado do padrinho é uma das coisas que o diferencia dos pícaros espanhóis, que de acordo com Antonio Cândido, no início são ingênuos e a brutalidade da vida os faz ficar espertos com o decorrer da narrativa. Para Cândido, Leonardo não pode ser considerado um pícaro, pois a vida não lhe foi difícil, ele já nasce malandro por natureza. O romance tem um quê de romance de costumes. Somos apresentados a muitos costumes da sociedade carioca da época e podemos ter uma certa noção de como ela funcionava. Pra mim, o romance tem  um quê de identidade brasileira, bem mais que os romances indianistas de Alencar, que têm como principal proposta essa busca por uma identidade brasileira. Afinal de contas, somos conhecidos no mundo todo pelo nosso não tão agradável jeitinho brasileiro de resolver as coisas. Como o Leonardo. O livro é bom, não é uma leitura chata, embora alguns termos precisem ser pesquisados para não se perder o sentido da leitura e faz refletir sobre as (des)continuidades da sociedade brasileira do século XIX até os dias atuais. Recomendo!!!

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