Análise que foi passada pelo professor de Literatura Portuguesa:
Acho que me deu Deus tudo
para mais meu padecer:
os olhos - para vos ver,
coração - para sofrer,
e língua - para ser mudo.
Olhos com que vos olhasse,
coração que consentisse,
língua que me condenasse:
mas não já que me salvasse
de quantos males sentisse.
Assi que me deu Deus tudo
para mais meu padecer:
os olhos - para vos ver,
coração - para sofrer,
e língua - para ser mudo.
(Cancioneiro Geral, V, Pág.293)
Em
Cantiga, de Francisco de Souza, a
temática é o sofrimento amoroso, que está presente na primeira estrofe: “Acho
que me deu Deus tudo/ para mais meu padecer:/ os olhos – para vos ver,/ coração
– para sofrer,/ e língua – para ser mudo”. O sofrimento do eu-lírico também
está presente em palavras distribuídas ao longo da obra: “padecer”, “sofrer”,
“condenasse”. A repetição da palavra “para” nos leva a concluir que a
finalidade da vida do eu-lírico é o sofrimento: “os olhos – para vos ver,/
coração – para sofrer,/ e língua – para ser mudo”, o que é ainda mais
valorizado com a repetição. Estes versos estão presentes na primeira e na
terceira estrofes.
Neste
poema, retoma-se a temática das cantigas de amor: o sofrimento pelo amor de uma
mulher que lhe é impossível. Há uma oposição entre o eu e o vós, o eu-lírico e
a dama, que continua sem espaço para respostas, assim como nas cantigas de
amor.
O
texto é direto. Não há espaço para metáforas e nem para leituras simbólicas: o
que está escrito, e que na época era declamado, é exatamente o que o poeta quis
dizer.
O
ritmo do poema é dado pelas rimas em –udo e –er na primeira e terceira estrofes
e –asse e –isse na segunda estrofe.
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