terça-feira, 8 de maio de 2012

Cantiga, de Francisco de Souza.

 Análise que foi passada pelo professor de Literatura Portuguesa:

Acho que me deu Deus tudo
para mais meu padecer:
os olhos - para vos ver,
coração - para sofrer,
e língua - para ser mudo.

Olhos com que vos olhasse,
coração que consentisse,
língua que me condenasse:
mas não já que me salvasse
de quantos males sentisse.

Assi que me deu Deus tudo
para mais meu padecer:
os olhos - para vos ver,
coração - para sofrer,
e língua - para ser mudo.
                    (Cancioneiro Geral, V, Pág.293)

Em Cantiga, de Francisco de Souza, a temática é o sofrimento amoroso, que está presente na primeira estrofe: “Acho que me deu Deus tudo/ para mais meu padecer:/ os olhos – para vos ver,/ coração – para sofrer,/ e língua – para ser mudo”. O sofrimento do eu-lírico também está presente em palavras distribuídas ao longo da obra: “padecer”, “sofrer”, “condenasse”. A repetição da palavra “para” nos leva a concluir que a finalidade da vida do eu-lírico é o sofrimento: “os olhos – para vos ver,/ coração – para sofrer,/ e língua – para ser mudo”, o que é ainda mais valorizado com a repetição. Estes versos estão presentes na primeira e na terceira estrofes.
Neste poema, retoma-se a temática das cantigas de amor: o sofrimento pelo amor de uma mulher que lhe é impossível. Há uma oposição entre o eu e o vós, o eu-lírico e a dama, que continua sem espaço para respostas, assim como nas cantigas de amor.
O texto é direto. Não há espaço para metáforas e nem para leituras simbólicas: o que está escrito, e que na época era declamado, é exatamente o que o poeta quis dizer.
O ritmo do poema é dado pelas rimas em –udo e –er na primeira e terceira estrofes e –asse e –isse na segunda estrofe.

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