terça-feira, 8 de maio de 2012

Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente.


 Esta foi uma análise que foi passada pelo professor de Literatura Portuguesa. Acho que ficou legalzinha:

Farsa de Inês Pereira foi feita para ser apresentada a D. João III, em 1523. Para Teyssier, o teatro vicentino é um teatro de corte, que subordina-se ao cerimonial e às exigências da vida cortesã. Muitas peças foram encomendadas para a celebração de datas importantes, como aniversários, casamentos e festas religiosas. Embora seja uma peça teatral, há a presença de rimas em todo o texto. Gil Vicente utiliza a medida velha, característica da poesia medieval. As falas são compostas em redondilha maior, com sete sílabas poéticas e rimas. Inês Pereira é uma jovem que sabe ler e escrever, o que era raro na época e que se recusa a ter uma vida de submissão, reclusão e trabalhos domésticos, que era o destino das mulheres. Quer casar com um homem galante, bom e discreto para mudar a sua situação de vida. Lianor Vaz lhe propõe que se case com Pero Marques, um camponês rico. Pero vai à casa de Inês falar-lhe em casamento, mas ela não gosta de seus modos rústicos e das peras que ele leva de presente para ela. Ele fica constrangido em ficar sozinho com Inês: “Vossa mãe foi-se? Ora bem!/ Sós nos deixou ela assi?/ Cant’eu quero me ir daqui./ não diga algum demo alguém...”. Inês o diz para ele não aparecer mais: “Homem, não aporfieis/que não quero nem me praz;/ ide casar a Cascais!”. Ele vai embora, mas não perde as esperanças: “Ficai-vos ora com Deus:/ serrai a porta sobre vós/ com vossa candeiazinha;/ e siquais sereis vós minha,/ entonces veremos nós”. Para Spina, a Farsa de Inês Pereira é pouco mais que um esboço de uma comédia de costumes. Para Audrey Bell, esta peça prova que a questão dos direitos da mulher já aparecia no século XVI, mas para Teyssier fazer de Gil Vicente um precursor do feminismo é ser anacrônico, pois para o dramaturgo ninguém deveria sair de sua condição. Cada pessoa deveria procurar a sua salvação no lugar que foi determinado por Deus no mundo e na sociedade. Esta obra é uma variação sobre o tema da infidelidade feminina, muito constante na Idade Média. Inês representa o desejo de ascensão social da pequena burguesia, que assim como a personagem, vê no casamento uma forma de consegui-la. Há um desprezo pela vida camponesa e um prestígio das maneiras cortesãs. O desenvolvimento do capitalismo provoca a decadência da nobreza feudal e reforça o poder do monarca. A riqueza do comércio ultramarino passa a ser a base do prestígio social. A aristocracia passa a valorizar os ideais cavaleirescos. A nobreza, embora cada vez mais decadente, tentava impor esses ideais a quem queria pertencer a uma classe superior. A burguesia passa a buscar esses ideais a fim de ascensão social. Há a predominância do discurso direto. O diálogo é o meio utilizado para criar a narrativa da trama. Gil Vicente inspira-se nas fontes populares portuguesas em algumas de suas peças. Na Farsa de Inês Pereira, essa inspiração está presente no ditado popular no qual a peça está baseada: “Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube”. A obra é bilíngue – português e espanhol, uma característica presente em algumas obras de Gil Vicente e que retrata a realidade sócio-cultural portuguesa no início do século XVI, pois as duas cortes, e por conseguinte, as duas línguas, eram bastante próximas. Ao contrário do que ocorre em outras peças do autor, como O Auto da Barca do Inferno e o Velho da Horta, a protagonista trai o marido e não recebe castigos por isso.

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